É admirável querer dar conta de tudo. Ser produtiva no trabalho, ter a casa impecável, manter o corpo em forma, estar presente para amigos, filhos, família — e ainda postar tudo isso com um sorriso no rosto. Mas quando essa busca por performance se transforma em exigência constante, o que era inspiração vira opressão.
E o preço pode ser alto: exaustão, insônia, crises de ansiedade, desânimo e um profundo sentimento de culpa por não conseguir fazer mais. A verdade é que a cultura da hiperprodutividade — tão valorizada em redes sociais e no ambiente corporativo — está silenciosamente adoecendo muita gente, principalmente mulheres.
Quando ser eficiente se torna um fardo invisível
A ideia de que precisamos ser produtivas o tempo todo não surgiu do nada. Ela se fortaleceu com o avanço das tecnologias, o imediatismo das redes sociais e a romantização da rotina acelerada. Basta abrir qualquer aplicativo para encontrar frases como “Você tem as mesmas 24 horas que Beyoncé” ou “Durma enquanto eles descansam, trabalhe enquanto eles dormem”.
O problema é que, no mundo real, essas mensagens promovem uma falsa sensação de que o descanso é sinônimo de fracasso. A psicóloga Ana Paula Rigon, especialista em comportamento feminino, alerta: “Essa cobrança constante por alta performance cria um ciclo de comparação e autocobrança. O indivíduo começa a sentir que nunca é suficiente — mesmo estando no seu limite físico e emocional.”
Sintomas de que sua saúde está sendo comprometida
Dores no corpo sem explicação médica, sono agitado, irritabilidade constante, dificuldade de concentração e até crises de choro repentinas podem ser sinais de que você está vivendo sob pressão demais. E o mais perigoso é que, muitas vezes, esses sintomas são ignorados ou até normalizados como parte da rotina.

Segundo o psiquiatra Diego Tavares, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria, “existe um aumento expressivo de quadros como burnout, ansiedade generalizada e depressão funcional entre pessoas que tentam sustentar um ritmo de produtividade impossível. Elas chegam ao consultório exaustas, com sensação de que nunca conseguem ‘desligar’.”
O mito da mulher multitarefa e a armadilha da culpa
Para muitas mulheres, a produtividade vai além do ambiente de trabalho. Ela se estende para dentro de casa, para o cuidado com os filhos, com o parceiro, com os pais, com os pets. Existe uma expectativa social de que devemos ser multitarefas por natureza. E quando não damos conta de tudo, surge a culpa — esse sentimento silencioso que mina a autoestima e alimenta a exaustão.
A sobrecarga não é sinal de força, é um alerta. Quando o corpo e a mente começam a dar sinais de esgotamento, continuar no mesmo ritmo não é resiliência — é risco. O descanso precisa ser entendido como parte da produtividade, não como pausa na “vida ideal”.
Redefinindo o que é “ser produtiva”
Produtividade não deveria ser sinônimo de fazer mais coisas em menos tempo. Na verdade, ela deveria ser medida pela qualidade do que fazemos — e pelo impacto que essas ações têm em nosso bem-estar. Ter um tempo para respirar, para não fazer nada, para cuidar de si mesma é também uma forma de produtividade emocional.
Desacelerar é um ato de coragem em uma sociedade que valoriza o excesso. É aprender a dizer “não”, a delegar, a respeitar os próprios limites — e entender que a sua saúde mental vale mais do que qualquer entrega antecipada ou rotina impecável nas redes sociais.
A importância de normalizar o descanso
Fazer pausas, tirar férias de verdade, desativar notificações e permitir-se momentos de ócio são práticas simples, mas poderosas, que podem reequilibrar a mente e o corpo. A longo prazo, elas não diminuem a performance — elas a sustentam. “Pessoas descansadas produzem com mais criatividade, mais foco e menos desgaste. Isso já foi comprovado por diversas pesquisas neurocientíficas”, reforça o Dr. Diego Tavares.
Aliás, esse também é um convite à autocompaixão. Em vez de se cobrar por não ter dado conta de tudo, que tal reconhecer o que foi feito, agradecer pelo que foi possível e permitir-se simplesmente ser?

Especialista em Moda e estilo pessoal, Clara é apaixonada por transformar o guarda-roupa de suas leitoras em uma expressão autêntica de sua personalidade. Formada em Design de Moda, Clara escreve com o intuito de trazer dicas acessíveis e práticas, que valorizam cada tipo de corpo e estilo. Suas matérias vão além das tendências: Clara acredita que a moda é uma forma de empoderamento e autoconhecimento, inspirando leitoras a se expressarem com confiança.