O amor é, para muitos, o sentimento mais desejado do mundo. Ele move novelas, músicas, declarações em redes sociais e os olhares apaixonados pelas ruas. Mas, e quando o amor se torna um espelho rachado, refletindo só as partes que ferem? Nem todo “eu te amo” vem carregado de cuidado, e às vezes, o que parece afeto é, na verdade, controle, ausência de si ou até medo de ficar só.
Não é raro confundirmos paixão com intensidade emocional. Quando o coração acelera, o mundo parece caber em uma única pessoa. E é aí que, muitas vezes, começa a desilusão. O amor idealizado — aquele que tudo aceita, tudo perdoa, tudo aguenta — pode se transformar em armadilha. “Relacionamentos que exigem que você se diminua para caber neles não são amor. Isso é submissão emocional”, alerta a psicóloga e terapeuta de relacionamentos Marina Sant’Anna, que atua com casais há mais de 15 anos.
Esse lado obscuro do amor não aparece logo de cara. No início, há flores, mensagens de bom dia, promessas de um ‘para sempre’ que aquece até os dias frios. Mas o que começa com atenção pode virar obsessão. A cobrança surge disfarçada de cuidado, o ciúme aparece como zelo, e o controle se veste de carinho. “A manipulação emocional quase nunca é gritante. Ela vem em silêncios desconfortáveis, chantagens sutis e uma constante sensação de que você deve mais do que recebe”, explica a especialista.

Quando o amor se torna um peso, ele deixa de ser ponte e vira prisão. Os sinais podem ser silenciosos: a perda da própria voz, a insegurança constante, o medo de errar e até o distanciamento de amigos e familiares. A pessoa amada vira centro e limite. Nada parece bom o bastante, e o amor, antes combustível, se transforma em cansaço.
É nesse cenário que muitas mulheres se perdem de si. Começam a se vestir diferente, deixam de frequentar lugares que gostavam, mudam seus gostos, calando sonhos antigos. “Amar não pode significar abrir mão de quem você é. Se para estar com alguém você precisa apagar partes importantes da sua identidade, esse amor está adoecido”, observa o psiquiatra Daniel Tavares, que atua em clínicas de saúde mental com foco em relacionamentos abusivos.
O que sentimos deve nos fazer crescer, e não nos diminuir. Um amor saudável encoraja, respeita e dá espaço. Já o amor tóxico sufoca, isola e exige sacrifícios silenciosos, como quem esconde um machucado debaixo da maquiagem. É claro que toda relação enfrenta desafios, mas há uma diferença imensa entre crescer juntos e ser moldada para caber em um molde que não é seu.
Reconhecer o lado feio do amor é um passo de coragem. Nem sempre é fácil aceitar que o conto de fadas virou drama psicológico. Mas aceitar essa verdade pode abrir espaço para uma nova versão de si mesma: mais livre, mais lúcida, mais forte.
A verdade é que o amor idealizado que vemos nas novelas ou nas redes sociais pode ser tão falso quanto um filtro exagerado. O verdadeiro amor, aquele que vale, é feito de respeito, limites claros, admiração e liberdade. E se não for assim, talvez seja hora de se amar primeiro.
A dor de um amor que adoece pode ser grande. Mas maior ainda é a força de quem decide se levantar, reconstruir e recomeçar. Porque, no fim das contas, o melhor tipo de amor é aquele que nos devolve para nós mesmas.

Especialista em Moda e estilo pessoal, Clara é apaixonada por transformar o guarda-roupa de suas leitoras em uma expressão autêntica de sua personalidade. Formada em Design de Moda, Clara escreve com o intuito de trazer dicas acessíveis e práticas, que valorizam cada tipo de corpo e estilo. Suas matérias vão além das tendências: Clara acredita que a moda é uma forma de empoderamento e autoconhecimento, inspirando leitoras a se expressarem com confiança.