Em algum momento da maternidade e da paternidade surge uma dúvida inevitável: será que é hora de soltar a mão? A busca pela autonomia dos filhos é um desafio repleto de amor, medos, descobertas e, claro, muitas adaptações. Afinal, quem cuida quer proteger, mas também deseja ver a criança crescer confiante, segura e capaz de trilhar seu próprio caminho.
Enquanto no Japão é comum ver crianças pequenas indo sozinhas para a escola, atravessando ruas ou pegando transporte público — como mostra a série Crescidinhos, da Netflix —, aqui no Brasil essa realidade ainda parece distante. Mas, independente da cultura, uma coisa é certa: ensinar autonomia é um presente que os pais oferecem para a vida toda.
Autonomia, vale dizer, não é simplesmente saber fazer coisas sozinho. Ela tem a ver com algo muito mais profundo: reconhecer os próprios sentimentos, fazer escolhas conscientes e construir segurança emocional. É um processo que ajuda a criança a entender quem ela é no mundo, além de fortalecer sua autoestima e sua capacidade de enfrentar desafios.
Para a psicóloga infantil Larissa Tavares, “ser autônomo não significa apenas escovar os dentes ou se vestir sem ajuda. É, sobretudo, saber decidir, expressar vontades, entender limites e confiar nas próprias escolhas”. Segundo ela, criar filhos autônomos é, na verdade, um caminho para formar adultos emocionalmente saudáveis.
A construção da autonomia começa cedo — mas com muito afeto
Se engana quem pensa que a busca pela independência começa só na pré-adolescência. O processo começa nos primeiros anos de vida, ainda no colo, quando o bebê percebe que pode confiar nos adultos que cuidam dele. É essa relação de confiança que permite, mais tarde, que ele se sinta seguro para explorar o mundo.

Na prática, isso significa oferecer segurança, rotinas, acolhimento e, ao mesmo tempo, espaço para pequenas experimentações. Um bom exemplo é deixar que a criança escolha entre duas roupas para se vestir ou que ajude nas tarefas simples do dia a dia, como guardar brinquedos ou montar a própria lancheira.
A designer Letícia Almeida, mãe do Benício, de 3 anos, vive essa experiência de perto. “A gente percebe que eles querem tentar. Então deixo ele pegar os próprios talheres, escolher os sapatos — e se erra, tudo bem. Faz parte do processo aprender que nem tudo precisa ser perfeito”, conta.
E esse caminho é cheio de descobertas. Benício, por exemplo, já participa da organização da própria mochila, ajuda a separar as roupas e até tenta, do jeitinho dele, preparar lanches simples. “Claro que faz bagunça, mas vejo o quanto ele fica orgulhoso quando consegue. Isso não tem preço”, diz a mãe.
Por que alguns pais têm dificuldade em soltar a mão?
Se por um lado existe o desejo de ver os filhos crescendo livres e confiantes, por outro há o medo: de errar, de não proteger o suficiente, ou até de se sentirem menos necessários na vida das crianças. E tudo isso é absolutamente humano.
Para a psicoterapeuta Marina Souza, esse desconforto muitas vezes surge da dificuldade dos próprios pais em lidar com o crescimento dos filhos. “Quando a criança começa a se mostrar capaz, o adulto percebe que aquele ser, antes completamente dependente, já não precisa tanto dele o tempo todo. E isso pode gerar inseguranças, questionamentos e até resistência em dar mais espaço.”
Por isso, ela reforça que estimular a autonomia não é deixar de cuidar. É cuidar de um jeito que fortalece. É entender que o amor também mora no espaço que damos para o outro crescer.
Sinais de que seu filho está pronto para ganhar mais autonomia

Assim como ninguém aprende a andar de bicicleta sem antes tirar as rodinhas, a autonomia também surge aos poucos. E há sinais claros que mostram que a criança está pronta para voar um pouco mais:
- Começa a pedir para fazer tarefas sozinha, como escolher a roupa, arrumar a cama ou preparar o lanche.
- Demonstra interesse em tomar decisões e quer mais privacidade em alguns momentos.
- Entende e aceita pequenas responsabilidades, como cuidar de um bichinho, guardar os brinquedos ou ajudar em casa.
- Aprende a pedir ajuda quando sente necessidade, mostrando que entende seus próprios limites.
Nessa fase, o papel dos pais é acompanhar de perto, mas sem sufocar. “É como segurar pela cintura quando eles andam de bicicleta. Você está ali, mas não está segurando a todo momento”, resume a psicóloga.
Autonomia também se aprende dentro e fora de casa
Se dentro de casa as tarefas simples ajudam a criar segurança — como deixar que a criança escolha sua roupa, organize o quarto ou prepare a própria lancheira —, fora de casa o desafio é outro: como permitir que ela explore o mundo com segurança?
Para o educador social Bruno Ferreira, a resposta passa por uma reflexão coletiva sobre as cidades que estamos construindo. “Quando os espaços públicos são seguros, acessíveis e acolhedores, as crianças podem, sim, começar a desenvolver autonomia fora do ambiente familiar.”
Mas enquanto isso não acontece em muitas cidades brasileiras, a solução está em criar experiências protegidas, como pequenos percursos dentro do condomínio, na escola ou na casa de amigos. A supervisão pode existir — à distância —, mas o protagonismo é da criança.
Mais autonomia, menos controle: e muito mais conexão
A educadora parental Camila Ribeiro costuma dizer que “criar filhos autônomos não é soltar de uma vez, nem segurar para sempre. É um equilíbrio entre oferecer segurança e permitir que eles se sintam capazes”.
Ela alerta, porém, que pais muito controladores acabam, sem perceber, minando a autoconfiança dos filhos. E isso não é só uma impressão: pesquisas apontam que crianças criadas sob excesso de vigilância têm mais dificuldade em regular emoções, são menos resilientes e apresentam mais ansiedade na vida adulta.
Por isso, a chave é o equilíbrio. Não se trata de abandonar, nem de deixar que a criança enfrente desafios incompatíveis com sua idade. É sobre estar por perto, disponível, mas confiando na capacidade que ela está desenvolvendo.
Autonomia é um presente para a vida toda
No fundo, permitir que os filhos cresçam autônomos é um dos maiores atos de amor. Porque, mais do que preparar a criança para o mundo, é mostrar que ela pode confiar em si mesma — e que, se algo não sair como planejado, sempre haverá uma mão estendida para ajudá-la.
Afinal, soltar a mão não significa deixar de amar. Significa amar tanto, que se tem coragem de deixar o outro crescer.

Maira Morais, é Mãe, Makeup e influenciadora digital que se destaca no universo da beleza por sua criatividade e técnica refinada. No mercado a anos, decidiu compartilhar dicas de maquiagens, beleza, maternidade e demais inspirações para o universo das mulheres.